15 de abr. de 2010

o tigre azul e nossa terra prometida


 


Nem história negra, nem história cor-de-rosa. Os dois extremos dessa oposição, falsa oposição, nos deixa fora da história: nos deixa fora da realidade. Ambas interpretações da conquista da América revelam uma veneração suspeita do tempo passado, fulgurante cadáver cujos resplendores nos ofuscam e cegam frente ao tempo presente das terras nossas de cada dia. A parte negra dessa visão nos propões a visita ao Museu do Bom Selvagem, onde podemos cair no choro pela aniquilada felicidade de uns homens de cera que nada têm a ver com os seres de carne e osso que povoam nossas terras. Simetricamente, a versão cor-de-rosa dessa história nos convida ao Grande Templo do Ocidente, onde podemos somar nossas vozes ao coro universal, entoando os hinos de celebração da grande obra civilizatória da Europa, uma Europa que derramou-se sobre o mundo para salvá-lo.


Não, não: nem a história negra, nem a história cor-de-rosa. Recuperar a realidade: esse é o desafio. Para mudar a realidade que é, recuperar a realidade que foi, a mentira, escondida, traída realidade da história da América.

Eduardo Galeano in Contra-Senha, pág. 101

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