16 de dez. de 2012

todo dia


Por vezes desejos dialogam em nós. Desejos? Talvez lembranças, reminiscências feitas de sonhos inacabados... Um homem e uma mulher falam na solidão de nosso ser. E, no livre devaneio, eles falam para se confessar mutuamente os seus desejos, para comungar na serenidade de uma dupla natureza bem entrosada. Nunca para combater. Se esse homem e essa mulher guardam um vestígio de rivalidade, é porque estão sonhando mal, é porque atribuem os nomes do dia-a-dia aos entes do devaneio intemporal. Quanto mais se desce nas profundezas do ser falante, mais simplesmente a alteridade de todo ser falante se designa como a alteridade do masculino e do feminino.

Gaston Bachelard - A poética do devaneio

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