12 de jun. de 2015

Duplo gênero


A dialética do masculino e do feminino se desenvolve num ritmo da profundeza. Vai do menos profundo, sempre do menos profundo (o masculino), ao sempre profundo, sempre mais profundo (o feminino).

E é no devaneio, "na inexaurível reserva da vida latente", como diz Henri Bosco, que vamos encontrar o feminino desdobrado em toda a sua amplitude, repousando na sua simples tranquilidade.

Depois, como é necessário renascer para o dia, o relógio do ser íntimo soa no masculino - no masculino para todo mundo, homem e mulher. Vêm então, para todos, as horas da atividade social, atividade essencialmente masculina.

E mesmo na vida passional, homens e mulheres sabem se servir, cada um, desse duplo poder. Surge então um novo problema, um difícil problema, o de colocar ou manter em cada um dos parceiros a harmonia de seu duplo gênero.


Gaston Bachelard "A Poética do Devaneio" - pg. 57

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