3 de jun. de 2015

Um devaneio não se conta



" Notemos, aliás, que um devaneio, diferentemente do sonho, não se conta. Para comunicá-lo, é preciso escrevê-lo, escrevê-lo com emoção, com gosto, revivendo-o melhor ao transcrevê-lo.
Tocamos aqui no domínio do amor escrito. Essa moeda está acabando. Mas o benefício permanece. Ainda existem almas para as quais o amor é o contato de duas poesias, a fusão de dois devaneios. O romance por cartaz exprime o amor numa bela emulação das imagens e das metáforas. Para dizer um amor, é preciso escrever. Nunca se escreve demais. Quantos amantes não correm para abrir o tinteiro mal chegam de seus encontros amorosos! O amor nunca termina de exprimir-se e se exprime tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a doçura de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade."

Gaston Bachedard - A poética do Devaneio - p. 7)

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